terça-feira, 9 de junho de 2009

Vamos fazer um pouquinho mais?

Vou postar um texto que achei interessante. Tirei o último parágrafo porque achei brega, mas o texto na íntegra pode ser visto aqui. Outra coisa: se estiver com preguiça, leia pelo menos o que eu escrevi no final.

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Aproveite bem o seu dia
por Adriano Silva, na coluna Manual do Executivo Ingênuo, do Portal Exame

Aí um dia você toma um avião para Paris, a lazer ou a trabalho, em um vôo da Air France, em que a comida e a bebida têm a obrigação de oferecer a melhor experiência gastronômica de bordo do mundo, e o avião mergulha para a morte no meio do Oceano Atlântico. Sem que você perceba, ou possa fazer qualquer coisa a respeito, sua vida acabou. Numa bola de fogo ou nos 4 000 metros de água congelante abaixo de você naquele mar sem fim. Você que tinha acabado de conseguir dormir na poltrona ou de colocar os fones de ouvido para assistir ao primeiro filme da noite ou de saborear uma segunda taça de vinho tinto com o cobertorzinho do avião sobre os joelhos. Talvez você tenha tido tempo de ter a consciência do fim, de que tudo terminava ali. Talvez você nem tenha tido a chance de se dar conta disso. Fim.

Tudo que ia pela sua cabeça desaparece do mundo sem deixar vestígios. Como se jamais tivesse existido. Seus planos de trocar de emprego ou de expandir os negócios. Seu amor imenso pelos filhos e sua tremenda incapacidade de expressar esse amor. Seu medo da velhice, suas preocupações em relação à aposentadoria. Sua insegurança em relação ao seu real talento, às chances de sobrevivência de suas competências nesse mundo que troca de regras a cada seis meses. Seu receio de que sua mulher, de cuja afeição você depende mais do que imagina, um dia lhe deixe. Ou pior: que permaneça com você infeliz, tendo deixado de amá-lo. Seus sonhos de trocar de casa, sua torcida para que seu time faça uma boa temporada, o tesão que você sente pela ascensorista com ar triste. Suas noites de insônia, essa sinusite que você está desenvolvendo, suas saudades do cigarro. Os planos de voltar à academia, a grande contabilidade (nem sempre com saldo positivo) dos amores e dos ódios que você angariou e destilou pela vida, as dezenas de pequenos problemas cotidianos que você tinha anotado na agenda para resolver assim que tivesse tempo. Bastou um segundo para que tudo isso fosse desligado. Para que todo esse universo pessoal que tantas vezes lhe pesou toneladas tenha se apagado. Como uma lâmpada que acaba e não volta a acender mais. Fim.

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Gostei de como ele falou de alguns detalhes de quem viaja de avião ou de como planejamos mil coisas e não as fazemos. Acontece que é inviável viver pensando, a todo momento, na nossa morte em potencial. Assim como, para lidar com o dia-a-dia, criamos certos mecanismos de defesa e ignoramos aquele mendigo com pernas atrofiadas da Paulista, seguimos em frente e reclamamos dos nossos afazeres. Tampouco é viável apagar nosso fogo com a desgraça alheia: ainda que haja fome na África, isso não me impede de ficar triste quando me sinto gordinha. Se o fulano acorda às 3 da manhã para pegar o trem e entrar no serviço às 6, eu que também entrava nesse horário, mas acordando às 5, não vou me sentir menos cansada.

Enfim, acho que devemos tentar fazer um pouquinho mais, nos esforçarmos pra melhorar nossas vidas e a dos outros, viver experiências novas, superar nossos medos. Milhares de pessoas morrem todos os dias em São Paulo, mas é isso: só damos atenção à morte quando ela acontece de forma extraordinária, com muitas pessoas e, de preferência, com ricos ou com a classe média.

By the way, um bilionário foi assassinado após chamar a amante de prostituta. Dá uma olhada. Beijos.

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