segunda-feira, 5 de abril de 2010

Vazamento

Com a face esquerda descansando sobre a cama, sentia de perto o cheiro de seu lençol. De alguma forma, o ombro direito fazia companhia às bochechas rosadas e aos lábios entreabertos do rosto quase entregue. Sem qualquer pretensão, tornava-a mais mulher, como naqueles movimentos femininos de aproximar o ombro da face.

O ventre lentamente se descolava do colchão por ordem dos quadris que teimavam em subir. E as coxas se afastavam cada vez mais, porque era como o prazer queria, descarado e sincero. Entregar-se aos desejos desinibidos era, em si, prazeroso. Jogava consigo mesma: ora cedia, ora privava com malícia, para depois passar dos limites. E ela sabia disso. E saber que sabia era ainda mais excitante. Reconhecia-se animal e ardente, isso também fazia parte do jogo.

A imaginação e o atrito úmido intensificavam as pulsadas delirantes, que subiam pelo corpo para explodir como fogos de artifício em cada extremidade, em cada ponta de cada dedo. Era o poder de sentir os dois ao mesmo tempo: os dedos molhados percorrendo pequenos montes de carne macia e os arrepios no âmago de cada toque.

O momento da entrega era o melhor. Sabia que iria chegar e, por isso, brincava mais um pouco de quase se perder. Até ser surpreendida pela grande certeza do êxtase, que cobria o mundo com um lençol branco e deixava a vida, por ora, mais simples e bela.

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