sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dia do Nordestino: Tudo sobre minha mãe

Apesar de eu ser uma nordestina aculturada não poderia deixar esse dia passar sem alguns comentários. Na verdade, algumas observações.

O que isso significa?

Para os provenientes de outras regiões do país é um dia para piadas preconceituosas ou discursos piegas sobre o nordestino "romanceado", para não dizer idealizado. Para mim é um pouco da primeira e outro pouco da segunda opção com uma pitada de complexo de "não sei quem eu sou e não sei de onde vim". Por isso vou falar da minha mãe que uma nordestina quase que de verdade.

Minha mãe nasceu em Pernambuco, em uma cidade que vocês nunca ouviram falar, então nem vou dizer. Filha de mãe viúva bitolada em igreja, a mais nova de onze filhos e uma das 3 únicas filhas mulheres, cuja a diferença de idade é de 10 anos entre cada. Analisando a vida da minha mãe a gente pode ver que ela foi criada a partir dos pilares que sustentam a imagem que o resto do país tem do nordestino: catolicismo exacerbado, machismo, homens promíscuos, madrinhas semi-deusas, tias solteironas, ascensão e declínio social e racismo, só faltou a peixeira e a gaita. Mas apesar dessa criação ela nunca acreditou nessas coisas e por isso sempre foi um peixe fora d'agua dentro da própria família. Em 89 foi para o Rio de Janeiro onde se aproximou da família do meu pai que é extrovertida, engraçada e unida. Não se iludam, famílias não são perfeitas, mas teve contato com um tipo de interação famíliar que ela não estava acostumada e isso despertou uma característica muito especial dela: o humor. Durante 30 anos ela foi introvertida e de repente ela começou a expor algo que sempre teve, mas nunca encontrou espaço para se expressar.

Em 97 ela veio para São Paulo, onde pôde retomar o contato com livros, filmes etc, que ficou adormecido na época do Rio, pois as prioridades eram outras. É incrível, mas a minha mãe tem assunto com TODO mundo. E quando eu digo assunto, é assunto mesmo e não só ficar ouvindo o outro e fingindo que isso é uma conversa e soltando um pseudo comentário de vez em quando. Não! Ela tem conteúdo para compartilhar horas com qualquer pessoa. E São Paulo trouxe isso para ela, a auto- estima e também recursos financeiros.

Durante muitos anos e talvez até outro dia, eu não me permitia aceitar São Paulo. Eu sempre me considerei carioca, minha família estava lá, entre outros eventos, mas a minha mãe ficava dizendo: "Paula, a gente é do lugar que foi melhor para a gente". Sem dúvidas São Paulo é esse lugar, especialmente para a minha mãe.

Mas se a minha mãe é de São Paulo, por que nos sonhos ela acorda em Pernambuco?

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