
“Ih, minha filha, foi só depois de muitos Jãos como esses seus aí que eu aprendi a cortar o mal pela raiz”, disse ele com aquela voz de dona-de-casa fofoqueira. “Não era nem pra você ter dado trela”.
Estavam conversando dentro do carro, debaixo da chuva, havia muito tempo. A pauta do dia era sobre aquelas pessoas com as quais nos relacionamos apesar de serem quem são (feias, gordas, chatas, burras, imaturas, sem-graça etc) e fazerem o que fazem, porque os defeitos foram relevados em nome de um bem maior. Mas, ainda assim, essa pessoa é quem dispensa. Chato, não?
E aí pairou no ar aquela questão: como é que aquela greta* zuada, em tantos aspectos, foi quem deu a cartada final? Como é que eu relevei tanta coisa por tanto tempo, pra depois tomar uma bota?
Mas é isso: às vezes, dá-se a uns o poder sobre nós que eles não deveriam ter. E foi este o conselho dele e de outros: por que colher verde, para ficar maduro? Por que aceitar menos do que se quer ou merece?
Mais vale um burro que me carregue a um cavalo que me derrube? Não, lógico que não. Se até os burros estão derrubando, que venha um alazão digno de me tomar e, por que não?, de me derrubar.
*greta é uma expressão (engraçadíssima) pra designar, muitas vezes pejorativamente, um homem ou uma mulher.
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