quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sem-vergonha

“E como foi o seu dia?” era como ele se protegia do silêncio. Este mal ameaçava aparecer e já era preenchido com um sorriso largo e pueril. “Do que você tá rindo?”, perguntava ela toda vez, sem entender. “Sou bobo”, respondeu agora, com voz grossa. E, de repente, eram crianças dando risadinhas envergonhadas.

Estavam as roupas descaradamente jogadas no chão. A coberta, não ousaram nem sequer puxar com os dedos do pé. Restou na morena o moletom velho de gola e mangas cortadas. Numa das pernas, pela metade, a meia-calça cinza. Nas bochechas, o rosado lascivo. Ele vestia apenas pele lisa e rija, que afundava em cada linha de divisão muscular. E o sorriso.

Enquanto conversavam, de pernas entrelaçadas, ela mexia nos cachinhos quase loiros do menino quase homem deitado ao seu lado na cama de solteiro. Os olhos não desgrudavam uns dos outros, mesmo que quisessem descer e tocar os corpos suados.

O sol já havia raiado há tempos e invadia o quarto pela fresta da janela pouco aberta. A claridade inegável não permitia esconderijos. “Mas, de verdade, como você tá?”, perfurou-a com os olhos verdes. “Ah”. Engoliu seco, molhou os olhos, engoliu o choro. O sábado deveria terminar em gozo, não em lágrimas. E assim sucedeu para os dois.

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