quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A terceira

Você não ia descansar?, perguntou-me rouca a voz debilitada e imunodeficiente da minha consciência. Por que tudo tem que ser uma escolha, uma renúncia?, gritou outra, resoluta.

E, então, peguei o copo plástico de Dreher com limão que aquela mão bonita e masculina me oferecia. Mas que mãos, meu deus!, pensaram ousadas as vozes. São 23h30, alfinetou humildemente a primeira, você vai perder o metrô. Posso dormir aqui, respondeu a outra, ríspida. E, como se apenas para argumentar, produziu em minha mente a cena tão desejada: sentados no chão de tacos de madeira, com as bocas entrelaçadas, a barba e o bigode a arranhar-me a pele.

Deixe-o, não vale a pena, sussurrou manhosa a voz que queria descanso. Ah, mas que mãos, que olhos, que bocabarbabigodeebunda, implorou a outra. Eu sei, respondeu triste a primeira, mas não há garantias. Não há garantias, que merda!, protestou a segunda, que merda!

E, sem aviso ou precedentes, surgiu uma terceira voz, serena e sábia: Haverá outras oportunidades. E rumei correndo ladeira abaixo, depois ladeira acima, em direção ao metrô que demoraria a chegar e deixaria espaço para dúvidas, arrependimentos e teorias mirabolantes.

Um comentário:

  1. E Blá, Blá.... Quantas são as vozes que ouvimos? Quantas renúncias? A vida é uma escolha que nem sempre tem certo ou errado.
    Temos que confiar no inesperado, pois foi isso que aconteceu depois de ladeiras, e espaços de tempo entre metrô, álcool e vozes.
    Bjs*.*
    Thata.

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